#18 Comendo uva na chuva


Durante a campanha eleitoral deste ano, que levou o Brasil a dar uma guinada completa para extrema direita fascista, recebi de um amigo muito querido a foto de Manuela D’ávila usando uma camiseta com a estampa: Jesus é travesti.
[Inserir vinheta]
É claro que Manuela D’ávila nunca usou uma camiseta escrita: Jesus é travesti. E ninguém, familiarizado com os recursos digitais, como o fotoshop, por exemplo ou que não estivesse idiotizado por uma igreja, acreditaria naquilo, caso não quisesse muito acreditar. E mesmo que Manuela D’ávila tivesse usado a tal camiseta ou que ela fosse metade das coisas que os fascista inventaram sobre ela e sobre Haddad, não mudaria meu voto. 
Mas alguma coisa mudou quando esse amigo, de muito anos e o qual eu amava muito, enviou-me essa foto.
Eu descobri que esse amigo, pessoa boa, religiosa e que já havia orado por mim muitas vezes, em nome de suas convicções religiosas, em nome de defender o que ele acreditava ou que o pastor de sua igreja acreditava, ser o melhor para o nosso país, estava disposto a mentir, a levantar falso testemunho, estava disposto a votar em uma pessoa que abertamente dizia:
[Inserir fala: eu sou favorável a tortura]
O candidato do meu amigo, o candidato de uma parte bem grande dos cristão, não apenas não amava o próximo, ele pregou o ódio e abertamente disse:
 [Inserir fala: as minorias devem se curvar ou desaparecer]
O meu amigo, ao votar, abandonou quase todos os mandamentos que ele mesmo dizia seguir.
Claro que eu poderia ignorar, relevar essa ofensa, caso fosse apenas eu o prejudicado. Mas de fato, o miliciano ter sido eleito, complicou tudo. O meu amigo, ao repassar conscientemente fake news para ganhar votos para as causas de sua igreja, não apenas me ofendeu, tornou-se responsável por espalhar ódio, por espalhar mentiras, por colocar em risco a vida das minorias que devem se curvar ou desaparecer. 
Os fascistas, os ditadores, os opressores, convivem bem com a corrupção. Eles são os maiores corruptos. Corruptos e corruptores. Corromperam uma pessoa boa, religiosa, como o meu amigo, e o transformou em fiador de calúnias, defensor de milicianos assassinos, de corruptos combatentes do marxismo cultura.
E para mim, uma amizade abalada é tão grave quanto saber que eles, os fascistas, seus apoiadores e até os eleitores convictos, são responsáveis pelo aumento das queimadas na Amazônia, pelo aumento das mortes em confrontos com a polícia, pelo desmonte das universidades públicas, pelo sumiço do Queiroz e pelo assassinato de Mariele, que a Polícia Federal não tem coragem de desvendar.
Alguém disse, e concordo: você se torna eternamente responsáveis pelos políticos que elege e, acrescento por minha conta, também pelos políticos que deixa eleger ao votar em branco ou anular seu voto. 
 Para pensar em tudo isso, vamos ouvir, Comendo uva na chuva, música de André Abujamra, Gravado pelo Karnak em 1995.  

Ouça aí, Comendo uva na chuva, e vamos pensar.

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