PAGAR POR PRIORIDADE
Ontem, enquanto fazia minha caminhada de uma hora
por dia, refletia sobre a capacidade que muitos têm de roubar, de se dar bem
acima de todos e tudo. E parece que quanto mais a população é carente, mais
atrai aproveitadores, ladrões e espertalhões.
Quem nunca ouviu falar de prefeituras onde a população
não tem quase nada, o povo passa fome, mas prefeitos, vereadores, secretários,
servidores, juízes e até professores ajudam a desviar as recursos públicos. Em
alguns lugares estão desviando até merenda escolar. Ela acaba virando
propaganda eleitoral. Desviam o dinheiro de comprar a merenda e as crianças,
sem tem o que comer (ainda mais com a recente seca) ficam sem nada até na
escola.
Mas pode acontecer até pior. Recentemente fiquei
sabendo que em uma cidade de Sergipe as merendeiras separam tudo que é bom da
merenda escolar e divide com os funcionários e professores. E as crianças ficam
com o que sobra, se sobrar. Ouvi dizer que há frízer cheio de polpa de fruta,
mas suco só para professores. Os estudantes comem arroz sem tempero. Como essa gente consegue dormir fazendo isso?
Que justificativa arrumar para não se convencer de que são monstros?
E agora essa do Ginecologista que cobrava R$ 50,00
para priorizar o atendimento das gestantes. Absurdo. Ainda mais se a gente
observar que gestantes já têm ou deveriam ter o privilégio de não precisar
aguardar atendimento.
Fico pensando que tudo isso é uma conspiração. Há inúmeras
normas, regras, protocolos estipulando como deve funcionar o atendimento as gestantes.
Por que o serviço não é organizado de forma a atender como se deve?
Um serviço mal organizado propicia que esse tipo
de coisa aconteça. Mas porque não se organiza o serviço? Um algumas teorias:
1.
Não há profissional que
saiba organizar;
2.
Não há profissional que
tenha interesse em organizar;
3.
A gestão não quer que
organize, pois a desorganização dá lucro para alguns;
Não entendo como é que, mais de 20 anos depois da
implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Estratégia Saúde da Família
(ESF), ainda se faça pré-natal e hospital e ainda por cima com um
Ginecologista. Por que isso, porque certas verdades não levam fé?
Não falando especificamente deste caso, pois a imprensa
não explica nada, mas de um modo geral a mulher grávida ou melhor, o casal
grávido, não precisa de um médico ginecologista para acompanhar seu pré-natal.
Gestação não é doença, é um período de atenção e cuidado redobrado no intuito
de evitar que doenças e/ou problemas apareçam. O Ministério da Saúde preconiza que
o pré-natal de baixo risco, mais de 90% das mulheres, pode e deve ser feito na
ESF pela Enfermeiro ou pelo Médico generalista, tanto faz um ou outro
profissional.
Na ESF a mulher tem prioridade, não precisa
enfrentar fila, ficar esperando. Ao menos se o serviço for organizado. E dá
para organizar?
Claro que dá, basta um mínimo de bom senso e
vontade política de profissionais e gestores. Não se trata exatamente de
dinheiro, mas de vontade e capacidade.
Trabalhei em um município de cinco mil habitantes
em que atendía-se gestante com hora marcada pelo SUS. Quem fazia o pré-natal
era toda equipe. Eu, Enfermeiro coordenava todo processo, inclusive fazia os diagnósticos
de gravidez, o primeiro atendimento e outros durante as semanas de gestação. A
Médica participava, a nutricionista, o dentista, a assistente social, a Técnica
de Enfermagem, ACS e todo o serviço. Todas a mulheres recebiam visita
domiciliar de alguém da equipe na primeira semana de nascimento, se o caso
exigisse, até uma visita por dia durante a semana toda.
Isso é possível em tudo lugar, basta organização e
compromisso. Mas me pergunto: querem que o SUS funcione?
Se o SUS funcionar como vão vender planos particulares
de saúde?
Isso é de pensar, não é mesmo?
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