PROBLEMATIZAÇÃO DAS PROVAS DE 40% FACULDADE AGES
POLITICA E ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO DE SÁUDE
QUEBRA GALHO
Cirilo tem 44 anos. Procurou a unidade de saúde e foi encaminhado para consulta com
Nadilma, a Enfermeira:
- Bom dia, disse Nadilma, como vai senhor?
- Estou bem, respondeu Cirilo. Mas tenho uma doença que eu não sei o nome, só sei que é no esôfago.
- Já teve isso antes? Deixa-me ver o prontuário, disse Nadilma, não esperando ele responder. Aqui diz que
o senhor tem esôfago de Barret, na última consulta o senhor relatou intensa
pirose, sensação de refluxo
gastroesofágico e gosto amargo
ou azedo na boca. Foi solicitada uma endoscopia e o diagnóstico foi confirmado. Agora, eu vou te
explicar o que é essa doença e as formas de tratamento.
- Eu não vou falar com o Médico? Interrompeu seu Cirilo.
- O médico não vem hoje e eu estou ajudando ele e fazendo um favor[1] em lhe atender, disse Nadilma.
- Isso não tá certo não, disse Cirilo. Eu também tenho gastrite que foi causada por
uma bactéria, preciso de um
antibiótico que o médico disse que ia dar hoje. A senhora
vai me da a receita também? E completou: o médico disse que se eu não cuidar com essa gastrite, pode virar
uma úlcera; às vezes me sinto tão mal que não dou conta nem de ir para o trabalho.
- Entendo sua frustração seu Cirilo, mas essa é a política[2] do SUS[3]: se o médico não vem a Enfermeira
é quem atende[4].
- Des de quando que Enfermeira tem que ser quebra gaio de médico e ainda mais achando que tá me fazendo favor? Que eu saiba não foi por isso que a gente fez a 8ª Conferencia Nacional
de Saúde[5] não.
- O senhor foi na 8ª CNS, seu Cirilo, diz Nadilma. Fui sim, minha fia, mas não foi disso que vim falar não, a senhora sabe bem.
Seu Cirilo, além de seus problemas de saúde, ainda sofria de dores nas costas,
isso porque tomava conta da esposa acamada em consequência de um Acidente Vascular Encefálico (AVE) isquêmica que lhe paralisou o lado esquerdo
do corpo, inclusive a visão. Ela é obesa, tem colesterol alto, hipertensão e diabetes.
RESPOSTA POSSIVEL
A
Enfermeira Nadilma quis fazer parecer, para seu Cirilo, que estava lhe fazendo
um favor. Porém, saúde entendida como favor ou caridade, é um conceito anterior
à existência do SUS. Após a constituição federal de 1988, fica claro que
saúde é um direito de cidadania e não de consumidor ou de contribuinte da
previdência, como no inicio do século XX. Segundo Baptista (2007,
p. 29) “No Brasil, a garantia do direito à
saúde e a configuração de uma política de proteção social em saúde abrangente
(para todos e de forma igualitária) se configuraram muito recentemente, com a
promulgação da Constituição Federal.”
Ainda
nos anos 60 o direito a saúde no Brasil ainda não era um direito de cidadania.
Quem podia pagar conseguia assistência, quem não podia dependia de caridades
das Santas Casas, mantidas pela Igreja Católica. Foi, entre outras coisas, contra
essa situação que se começou a instituir o Movimento de Reforma sanitária Brasileira
(MRSB), ao qual, seu Cirilo deixa perceber que participou. Segundo Baptista
(2007, p.43) “O cenário era de exclusão de uma boa parcela da população do
direito à saúde, haja vista o fato de que apenas poucos tinham garantido, nesse
momento, o direito à assistência médica prestada pelo INPS, e que os serviços
de saúde, do Ministério da Saúde, das secretarias estaduais e municipais, não absorviam
a demanda de atenção gerada pelo restante da população.” A 8ª Conferencia Nacional de Saúde foi o ápice do Movimento de Reforma
Sanitária Brasileira, que se iniciou por volta dos anos 70. Era constituídas de
Profissionais de Saúde, donas de casa, religiosos e instituições públicas e
populares, operários, agricultores, enfim, contava com a participação de indivíduos
comuns, como seu Cirilo. A 8ª CNS é a mais
falada de todas as conferencia porque foi a primeira que contou com a
participação popular e foi nela que se montou efetivamente os
princípios e as bases do que viria a ser o SUS.
A saúde passava a assumir um
sentido mais abrangente, sendo resultante das condições de alimentação,
habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer,
liberdade, acesso a serviços de saúde, dentre outros fatores. Portanto, o
direito à saúde significava a garantia, pelo Estado, de condições dignas de
vida e de acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção,
proteção e recuperação, em todos os níveis, de todos os habitantes do
território nacional. (BAPTISTA, 2007, p. 45)
Essa nova forma de entender a saúde
no Brasil, a partir de seus determinantes, pensando em um sistema universal,
integral e com participação popular, rompia com o direito apenas para os
segurados da previdência. Situação que parece não ser ainda de conhecimento de
muitos profissionais de Saúde, como a Enfermeira Nadilma, por exemplo. A
constituição Federal diz que é dever do estado assegurar
os direitos do cidadão mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e uma política setorial de saúde
capaz de garantir o acesso universal e igualitário às ações e serviços para
promoção, proteção e recuperação da saúde da população. Esses direito devem ser
garantidos pelo estado através do SUS, Sistema Único de Saúde.
Ele é de responsabilidade das três esferas de governo, Federal, Estadual
e Municipal. Segundo Baptista (2007, p. 51) “O
SUS insere-se em um contexto mais amplo da política pública a seguridade social
que abrange, além das políticas de saúde, as políticas de previdência e
assistência social.” O SUS é mais do que seus
prédios e equipamentos, é também o entendimento de saúde, seus profissionais e,
principalmente, os usuários, que somos todos nós.
Para garantir todos estes direitos
políticos, o cidadão deveria e deve assumir sua parte, que é previsto também na
constituição federal, ou seja, através do controle social, exercido através da
participação popular nos conselhos, conferencias e nas entidades sociais, como
Sindicatos, associações, entre outras. Esta é uma função política, aqui
entendida como uma ferramenta de ordenação da
sociedade. Maar (1985, p.22) diz que “a própria atividade política, longe de ser
apenas voltada a uma transformação do ‘mundo objetivo’ com vistas ao futuro,
significa, no presente, o exercício de uma atividade transformadora da consciência
e das suas relações com o mundo.” Essa atividade política, exercida no
dia-a-dia, parece ter mudado seu Cirilo, pois este cobra seus direitos. Porém
não parece ser tão efetivo na Enfermeira Nadilma, uma vez que aceita exercer,
seja por pressão, seja por miopia social, função que não é sua, como por
exemplo substituir as atividades do médico.
A Enfermagem pode fazer diversos
trabalhos no SUS, inclusive consultas para diversos problemas de interesse de
saúde coletiva, como Diabetes, Hipertensão, Hanseníase, Tuberculose e outras.
No entanto não cabe a Enfermeira suprir a deficiência de profissionais ou substituí-los.
Cada profissional tem suas atribuições normatizas pelos conselhos de classe e
um não deve fazer o trabalho do outro.
A portaria 648/2006, diz que cabe ao
Enfermeiro no PSF:
I - realizar assistência integral às pessoas e famílias na USF
e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços
comunitários.
II - realizar consultas de enfermagem, solicitar exames complementares
e prescrever medicações, observadas as disposições legais da profissão e
conforme os protocolos ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo
Ministério da Saúde, os gestores estaduais, os municipais ou os do Distrito
Federal.” (NR)
III - planejar, gerenciar, coordenar e avaliar as ações desenvolvidas
pelos ACS;
IV - supervisionar, coordenar e realizar atividades de educação
permanente dos ACS e da equipe de enfermagem;
V - contribuir e participar das atividades de Educação
Permanente do Auxiliar de Enfermagem, ACD e THD; e
VI - participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado
funcionamento da USF.
Se o Enfermeiro for fazer, como fez Nadilma, atender as consultas médica,
quando vai fazer o trabalho que lhe compete?
REFERENCIAS
·
BAPTISTA,
T. W. D. F. História das políticas de saúde no Brasil: a trajetória do
direito à saúde. In: MATTA, G. C. e PONTES, A. L. D. M. (Ed.). Políticas de
saúde: organização e operacionalização do sistema único de saúde. / Organizado
por Gustavo Corrêa Matta e Ana Lúcia de Moura Pontes. Rio de Janeiro: EPSJV
/ Fiocruz, v.1, 2007. p.29-60.
·
BRASIL.
Constituição da república federativa do Brasil. . FEDERAL, Brasília:
Senado Federal. 1 2010.
·
MAAR,
L. W. O que é política. 1ª. São Paulo: Abril cultural / Brasiliense,
1985.
·
BRASIL.
Portaria 648 - Política nacional de atenção básica: Ministério da Saúde
2006.
[1] Discutir a saúde enquanto direito do cidadão e o que existia antes da
criação do SUS;
[2] Discutir o que é Política;
[3] Discutir o SUS enquanto Política de Saúde;
[4] Discutir a conduta da Enfermeira;
[5] Discutir a reforma sanitária e a criação do
SUS;
PROCESSO SAÚDE DOENÇA E MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE
O QUE SE SABE E O QUE SE
SENTE
José, 55 anos, morador do município de Tucano
(48.740 habitantes), hipertenso com placas de ateroma, faz tratamento para a
arritmia cardíaca que sofreu há dois anos devido ao stress que teve com a
política e nos últimos 5 meses está com
muitas dores[1]
e manchas avermelhadas no corpo e reclamando de falta de ar. Foi ao sistema de
saúde e acabou fazendo uma baciloscopia e espirometria descobrindo que estava
infectado com uma bactéria intracelular chamada Mycobacterium leprae, que provoca uma patologia infecciosa chamada
Hanseníase[2]
e prejudicando seu sistema e demonstrando os seguintes resultados[3]:
Frequência
respiratória: 20 MVR;
Volume
corrente: redução de 15% dos valores normais;
Capacidade
Residual Funcional: Dentro dos valores normais;
Volume
de reserva Inspiratório: redução de 25%;
Ao ouvir o diagnóstico, seu José esconjurou:
“valha minha nossa senhora aparecida, isso só pode ser castigo de Deus. A
doença de Lázaro[4].”
E caiu em desespero[5].
O médico assustando com o descontrole do homem não soube exatamente onde errou
ao dar o diagnóstico e chamou a Enfermeira para tentar entender[6].
- Por que essa reação a um diagnóstico de
Hanseníase, o tratamento é muito simples.
- Para você, disse Neusa a Enfermeira, hanseníase
é apenas mais um diagnóstico de doença, mas para algumas pessoas, como seu
José, essa doença representa um castigo de Deus.
- Não consigo entender isto. Doença é uma coisa
simples, basta uns exames e a medicação certa e pronto[7].
Disse o médico.
- Para outras pessoas, disse Neusa, doença é mais
que isso.
A cidade de Tucano apresenta um número de pessoas
com 50 anos ou mais de 12.185 o que corresponde a 25% da população. Desde o ano
de 2008 até 2012 reduziu a proporção de óbitos nesta faixa etária de 62 para
55%, respectivamente. Deste quantitativo, até o momento não ocorreu nenhum
óbito por hanseníase na cidade, pois os medicamentos são oferecidos no sistema
de saúde, a maioria dos óbitos nesta faixa etária são ocasionados pelo
descontrole de doenças crônicas como a hipertensão do seu José, que leva
indivíduos em idade produtiva a morte ou à invalidez.
Resultado da Espirometria:
CPT:
|
CV:
|
CI:
|
CE:
|
CRF:
|
VRI:
|
VC:
|
VRE:
|
VR:
|
A SAÚDE ONTEM E HOJE
Ernande Valentin do Prado
Este texto trata-se de um
modelo de resposta possível para a prova de 40% da turma de segundo período do
calendário alternativo. É exatamente como ele precisa ser tomada, como modelo,
resposta possível e não como padrão ou resposta única. Foi elabora para servir
de modelo, sobretudo para estudantes com dificuldade de leitura e escrita. Por
isso tem um aspecto didático. Foi elaborado levando em conta as competências e
as leituras solicitadas na disciplina de processo saúde doença a partir do
caso: O que se sabe e o que se sente.
O caso fala de Seu José,
morador da cidade de Tucano, Bahia. Ele é um cidadão que tem se aborrecido
muito por conta da política e, a partir de dores generalizadas, foi
diagnosticado com Hanseníase. Aparentemente seu José é uma pessoa religiosa,
pois associou a doença com o Mau de Lazaro, que é uma figura bíblica e mais que
isso, com o significado histórico de ter lepra, como era conhecida a doença.
Scliar (2007) diz
que saúde/doença já foram pensadas como merecimento ou castigo divino e Seu
José deve ter associado isto. É provável que acredite que esteja sendo
castigado por algum pecado, isso explica o desespero dele.
O que se entende por saúde
ou doença varia conforme a época e define também a assistência prestada ao
individuo doente ou para que não adoeça. No tempo quem em Hanseníase era
considerado um castigo por ofender a Deus, a assistência à saúde consistia
basicamente de fazer a vontade divina, contribuir para que os pecados fossem
expiados para voltar a ter saúde ou realizar a passagem para o mundo sobrenatural.
Mas também já se entendeu de outras formas, como cita Prado, Santos e Cubas
(2009, p. 25):
No período nômade, há mais
de 10 mil anos, o principal objetivo dos homens era a sobrevivência. Seu tempo
era dividido entre a busca de alimentos através da caça, pesca coleta de frutos
silvestres e pela constante luta contra e/ou fuga de animais ferozes.
Os homens primitivos
explicavam a saúde e a doença e buscavam solucionar os problemas desta relação
a partir de um sistema de ideias de cunho mágico, religioso e sobrenatural. Os
bruxos e sacerdotes cuidavam dos doentes e tinham nas práticas ritualísticas
sua principal característica.
Ainda hoje entender o
processo saúde/doença é um esforço de reflexão, pois estar ou não com saúde
depende da conjuntura social, econômica, política e cultural e até de
interesses econômicos dos profissionais de saúde e da indústria farmacêutica,
entre outros. Entender de fato e conseguir transitar sem preconceito por esses
conceitos, depende, segundo Scliar (2007), dos valores individuais, concepções
científicas, religiosas e filosóficas, mas também de ter ou não condições de
adoecer, pois, Minayo (1997), diz que reconhecer-se ou não doente depende de
ter ou não condições financeira para isto, pois parte da população associa ter saúde
com poder trabalhar e estar doente, para muitos, é passar fome.
É Minayo (1997) quem
explica também as diferentes reações entre Seu José e o Médico, pois segundo
ela a população e os profissionais de saúde têm visões distintas do que seja
saúde/doença.
Quando uma pessoa procura o médico, este não quer saber de que
ambiente ela vem, que problemas enfrenta. Importante é localizar a doença,
entendida como uma especialidade, e o corpo doente é encarado como espaço da
doença, e não como espaço da vida.
Provavelmente é por isso que o médico não
conseguiu entender o desespero de Seu José. Para o médico a doença é algo que
dá no corpo, causado por vírus ou bactéria, por exemplo, e que se trata com
medicações, mas para população é mais que isso, pois associam com diversas
outras questões, como as sociais, financeiras e espirituais. “Na verdade,
quando está falando de doenças, a população está se referindo a um conjunto de
situações infelizes na sua vida, enquanto ao médico interessa, para
diagnóstico, os sintomas que configurem a doença enquanto ente biofisiológico”
Minayo (1997, p. 38).
Prado, Santos e Cubas (2009, p. 28,29) dizem que
“Hoje o conceito de saúde que mais se aproxima da realidade da população e que
mais possibilidades de intervenção na realidade social oferece é o conceito de
saúde do SUS.” Acrescentam ainda que este conceito entende a saúde a partir dos
determinantes sociais, ou seja, para ter saúde precisa ter alimentação,
moradia, emprego, lazer, liberdade de expressão e organização social, entre
outras coisas.
Embora, tanto o médico, quanto a Enfermeira possam
cuidar, Waldow (2008), diz que esta função parece ser melhor desenvolvida pela
Enfermagem. Essa característica do saber/fazer da Enfermagem pode ser uma
explicação do porque o médico precisou que a Enfermeira lhe explicasse o
descontrole de Seu José. Uma
característica do trabalho da Enfermagem é passar mais tempo do lado do
indivíduo que o médico, que vem faz o diagnóstico e prescreve a medicação. O
enfermeiro permanece, nos hospitais, por exemplo, 24 horas ao lado do doente,
por isso consegue entender melhor sua fala, seu pensar, seu modo de ser. Esta é
outra explicação possível.
REFERENCIA
·
SCLIAR, M. História do conceito de saúde. Physis: Revista de Saúde
Coletiva, v. 17, p. 29-41, 2007.
· MINAYO, M. C. D. S. Saúde e doença como expressão cultural. In: MINAYO, M. C. D. S.;FILHO, A. A., et al (Ed.). Saúde, Trabalho e Formação
Profissional. .
Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1997.
·
PRADO, E. V. D.; SANTOS, A. L. D.; CUBAS, M. R. Educação em saúde
utilizando rádio como estratégia.
Curitiba: CRV, 2009.
[1]
Discutir sobre dor crônica;
[2]
Discutir os aspecto biopsicossociais e espirituais da hanseníase;
[3]
Discutir sobre as alterações respiratórias;
[4]
Concepção de doença como castigo divino;
[5]
Evolução do conceito de saúde – concepção biologicista e mágico;
[6]
Aspecto cultural do processo Saúde/doença, diferença entre trabalho da
enfermeira e do médico;
[7]
Concepção biomédica de saúde;
HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E BASES PARA O CUIDADO
CUIDADO OU PROCEDIMENTO
Josefina
tem 37 anos de idade, é tabagista, etilista desde a adolescência e seu diabetes
tipo II está descompensado. Ela mora em Tubiacanga com seu marido e filhos, não
tem outros familiares[1].
Quando não consegue cuidar da casa e dos filhos recebe espontaneamente a ajuda
de Dona Cotinha, vizinha mais velha que a adotou como filha[2].
Há pouco
fora descoberto que Josefina estava com esteatose e evoluiu para hepatite e
cirrose hepática. Josefina estava apresentando mudança no comportamento, muito
nervosa, violenta e desorientada, situação que irritava profundamente as
Enfermeiras[3]
de plantão. Certa vez, em crise, foi amarrada na cama durante toda noite e
ficou com hematomas durante muitos dias[4].
A partir de mais avaliações identificou-se encefalopatia relacionada ao intenso uso de álcool por
muito tempo da vida.
Josefina há
20 anos sofre com complicações do Pé Diabético, inclusive, a partir de uma
escoriação com sangramento no halux, teve lesão, isquemia e trombose.
O CUIDADO É MAIOR QUE A ENFERMAGEM
Ernande
Valentin do Prado
Este texto
trata-se de um modelo de resposta possível para a prova de 40% da turma de
primeiro período noturno. É exatamente como ele precisa ser tomado, como
modelo, resposta possível e não como resposta única. Foi elabora para servir de
modelo, sobretudo para estudantes com dificuldade de adaptação, de leitura e
escrita. Por isso tem um aspecto didático. Foi elaborado levando em conta as
competências e as leituras solicitadas na disciplina de História da Enfermagem
e bases para o cuidado: cuidado ou procedimento.
Josefina é
uma mulher de 37 anos que tem diversos problemas. Estes são biofisiológicos,
sociais e psicológicos. Como todo ser humano, o que ela precisa é de cuidados,
mas o que é cuidado exatamente, como ele deve ser realizado, quem pode cuidar?
O ser
humano é um dos seres mais frágeis fisicamente do universo e o cuidado, segundo
Collière in Oguisso (2007), destina-se a preservar e manter a vida, seja
individual ou coletivamente. Boff (1999, p. 33) diz que o “cuidado é uma
atitude. E talvez seja por isso que Dona Cotinha tenha adotado Josefina, pois
tem essa atitude de cuidar, importar-se com o próximo. Haidegger (1889-1976)
in: Boff (1999) diz que o cuidado é ainda anterior a atitude, pois se encontra
na raiz do ser humano. Isto pode explicar por que vizinhos, aparentemente sem
motivos, ocupam-se em ajudar-se, preocuparem-se uns com os outros.
O texto diz
que Dona Cotinha adotou Josefina como filha e que, além de cuidar dela, ainda
preocupa-se com os filhos e a casa. Isso parece ter haver com o que diz Waldow
(2008) ao afirmar que o cuidador nem sempre escolhe cuidar, mas é acionado por
uma força moral. Força que ela colocou a serviço ao ver Josefina precisando.
Essa ação
moral é comum a todo ser humano. Alguns têm mais outros menos. Alguns conseguem
enxergar mais possibilidades de exercer o cuidado outros menos, mas todos a
possuem, mesmo que não a exerça com frequência. Embora muitos autores, como
Waldow (1998, 2004, 2007, 2008), Leininger (1991) Watson (2005) consideram o
cuidado a essência da Enfermagem, não devemos esquecer que cuidado, como já
frisado por Boff e haidegger, é capaz de ser realizado por todo ser humano. O
que difere o cuidado de Enfermagem do cuidado humano em si é que a Enfermagem o
exerce de forma profissional. Oguisso (2007) diz que o cuidado é o objeto da
profissão. Collière in: Oguisso (2007) diz que o cuidado nem sempre pertenceu a
Enfermagem ou a qualquer profissão, mas a todo ser capaz de cuidar. O Pequeno
Príncipe diz que o Cuidado é invisível por ser essencial, uma vez que,
concordando com Boff, Collière, Waldow, entre outros, o cuidado é essencial e
“o essencial é invisível aos olhos.” Talvez por isso o trabalho da Enfermagem
passe despercebido às vezes. Mas não é isso que acontece com o cuidado
realizado por pessoas como Dona Cotinha no dia a dia?
Josefina
tem muitos problemas de saúde, como diabetes descompensa, etilismo e esteatose.
Talvez por isso seja muito fácil confundir cuidar de Josefina com o cuidar de
seus problemas, suas doenças. Waldow (2008) diz que muitos profissionais
confundem cuidar com executar procedimentos. Sendo cuidado mais que uma atitude
moral, não pode ser confundido com “fazer” embora o fazer seja parte
indissociável do cuidado de Enfermagem. Waldow (2006) in: Waldow (2008, p. 11)
diz que “na verdade o cuidado é uma arte que pressupõe a técnica.” Pode se
apreender disto que a técnica, o procedimento pode ser executado sem cuidado,
apenas com o objetivo de sanar uma necessidade física e profissional, mas que
isto nem sempre se traduz em cuidado. No caso fica evidente que a Enfermagem
não conseguiu ter o cuidado verdadeiro, que, segundo Boff (1999), pressupõe amor,
desvelo, dedicação pelo próximo e nem mesmo executar as técnicas de Enfermagem
de forma eficiente. Isso fica claro pela forma como Josefina foi amarrada
durante sua crise. A enfermagem amarrou Josefina para que não incomodasse.
Amarrar a pessoa em crise não é errado, pode inclusive ser uma atitude de
cuidado, portanto vai da maneira como se faz isso, como se encaminha e procura
evitar complicações.
No filme o
nome do Cuidado, um dos personagens diz “que não se cuida de quem não se
conhece”. Quando se conhece a pessoa pode ser criar vínculo com ela e daí o
cuidado nasce, porém procedimentos podem ser executados em desconhecidos. “só cuida quem sabe o nome do cuidado.” E
parece que a equipe que cuidado de Josefina não sabia este nome.
Prado,
Santos e Cubas (2009) dizem que vivemos tempos de descaso generalizado,
seja no
âmbito institucional com os profissionais
de saúde, como aconteceu no caso, ou seja, amarraram Josefina de modo a
deixa-la com hematomas. Mas isso acontece nas famílias também, não é verdade?
No entanto ainda existem pessoas como Dona Cotinha, que sem motivo, sem
remuneração, sem preparo especial, ainda se dedica ao cuidado. Boff (1999) diz:
“Construímos o mundo a partir de laços afetivos. Esses laços tornam as pessoas
e as situações preciosas, portadoras de valor.”
A personagem Raposa do livro O pequeno Príncipe, diz que quando somos
cativados e cativamos temos necessidade uns dos outros e conseguimos diferir o
objeto cativado entre todos os outros. Josefina, com duas dores e dificuldades
cativou Dona Cotinha por algum motivo e desta relação, mesmo que não percebamos
as duas saem ganhando.
REFERENCIAS
- BOFF, Leonardo. Saber Cuidar, Ética do Humano - Compaixão Pela Terra. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
- PRADO, Ernande Valentin; SANTOS, Adilson Lopes; CUBAS, Marcia Regina. Educação em saúde: utilizando rádio como estratégia. 1. ed. Curitiba : Editora CRV, 2009.
- OGUISSO, Taka. (Org.) Trajetória histórica e legal da enfermagem. 2. Ed. Barueri-SP: Manole, 2007.
- ROSENBAUM, Paulo; LAMA, Leo. O nome do cuidado. Sputinik filmes. 2009.
- SAINT-EXUPÉRY, Antoine. Pequeno Príncipe. São Paulo: Circulo do Livro, 1994.
- WALDOW, Vera Regina. Bases e princípios do conhecimento e da arte da Enfermagem. Petrópolis: Vozes, 2008.
[1] Necessidade de vínculo e cuidado como forma de inserção no mundo;
[2] O que é cuidado e suas formas de expressão;
[3] O que é cuidado de enfermagem;
[4] Isto é cuidado, qual a diferença entre cuidado e cuidado de
enfermagem;
[E1]Tiago,
veja se encefalopatia serve para anatomia.... caso não dê certo veja para
trocar AVE, motivo colesterol aletrado com formação de embolia gordurosa.
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