PROBLEMATIZAÇÃO DAS PROVAS DE 40% FACULDADE AGES



POLITICA E ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO DE SÁUDE
QUEBRA GALHO

Cirilo tem 44 anos. Procurou a unidade de saúde e foi encaminhado para consulta com Nadilma, a Enfermeira:
- Bom dia, disse Nadilma, como vai senhor?
- Estou bem, respondeu Cirilo. Mas tenho uma doença que eu não sei o nome, só sei que é no esôfago.
- Já teve isso antes? Deixa-me ver o prontuário, disse Nadilma, não esperando ele responder. Aqui diz que o senhor tem esôfago de Barret, na última consulta o senhor relatou intensa pirose, sensação de refluxo gastroesofágico e gosto amargo ou azedo na boca. Foi solicitada uma endoscopia e o diagnóstico foi confirmado. Agora, eu vou te explicar o que é essa doença e as formas de tratamento.
- Eu não vou falar com o Médico? Interrompeu seu Cirilo.
- O médico não vem hoje e eu estou ajudando ele e fazendo um favor[1] em lhe atender, disse Nadilma.
- Isso não tá certo não, disse Cirilo. Eu também tenho gastrite que foi causada por uma bactéria, preciso de um antibiótico que o médico disse que ia dar hoje. A senhora vai  me da a receita também? E completou: o médico disse que se eu não cuidar com essa gastrite, pode virar uma úlcera; às vezes me sinto tão mal que não dou conta nem de ir para o trabalho.
- Entendo sua frustração seu Cirilo, mas essa é a política[2] do SUS[3]: se o médico não vem a Enfermeira é quem atende[4].
- Des de quando que Enfermeira tem que ser quebra gaio de médico e ainda mais achando que tá me fazendo favor? Que eu saiba não foi por isso que a gente fez a 8ª Conferencia Nacional de Saúde[5] não.
- O senhor foi na 8ª CNS, seu Cirilo, diz Nadilma. Fui sim, minha fia, mas não foi disso que vim falar não, a senhora sabe bem.
Seu Cirilo, além de seus problemas de saúde, ainda sofria de dores nas costas, isso porque tomava conta da esposa acamada em consequência de um Acidente Vascular Encefálico (AVE) isquêmica que lhe paralisou o lado esquerdo do corpo, inclusive a visão. Ela é obesa, tem colesterol alto, hipertensão e diabetes.

RESPOSTA POSSIVEL
A Enfermeira Nadilma quis fazer parecer, para seu Cirilo, que estava lhe fazendo um favor. Porém, saúde entendida como favor ou caridade, é um conceito anterior à existência do SUS. Após a constituição federal de 1988, fica claro que saúde é um direito de cidadania e não de consumidor ou de contribuinte da previdência, como no inicio do século XX. Segundo Baptista (2007, p. 29) “No Brasil, a garantia do direito à saúde e a configuração de uma política de proteção social em saúde abrangente (para todos e de forma igualitária) se configuraram muito recentemente, com a promulgação da Constituição Federal.”
Ainda nos anos 60 o direito a saúde no Brasil ainda não era um direito de cidadania. Quem podia pagar conseguia assistência, quem não podia dependia de caridades das Santas Casas, mantidas pela Igreja Católica. Foi, entre outras coisas, contra essa situação que se começou a instituir o Movimento de Reforma sanitária Brasileira (MRSB), ao qual, seu Cirilo deixa perceber que participou. Segundo Baptista (2007, p.43) “O cenário era de exclusão de uma boa parcela da população do direito à saúde, haja vista o fato de que apenas poucos tinham garantido, nesse momento, o direito à assistência médica prestada pelo INPS, e que os serviços de saúde, do Ministério da Saúde, das secretarias estaduais e municipais, não absorviam a demanda de atenção gerada pelo restante da população.” A 8ª Conferencia Nacional de Saúde foi o ápice do Movimento de Reforma Sanitária Brasileira, que se iniciou por volta dos anos 70. Era constituídas de Profissionais de Saúde, donas de casa, religiosos e instituições públicas e populares, operários, agricultores, enfim, contava com a participação de indivíduos comuns, como seu Cirilo. A 8ª CNS é a mais falada de todas as conferencia porque foi a primeira que contou com a participação popular e foi nela que se montou efetivamente os princípios e as bases do que viria a ser o SUS.
A saúde passava a assumir um sentido mais abrangente, sendo resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso a serviços de saúde, dentre outros fatores. Portanto, o direito à saúde significava a garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida e de acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação, em todos os níveis, de todos os habitantes do território nacional. (BAPTISTA, 2007, p. 45)

Essa nova forma de entender a saúde no Brasil, a partir de seus determinantes, pensando em um sistema universal, integral e com participação popular, rompia com o direito apenas para os segurados da previdência. Situação que parece não ser ainda de conhecimento de muitos profissionais de Saúde, como a Enfermeira Nadilma, por exemplo. A constituição Federal diz que é dever do estado assegurar os direitos do cidadão mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e uma política setorial de saúde capaz de garantir o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde da população. Esses direito devem ser garantidos pelo estado através do SUS, Sistema Único de Saúde. Ele é de responsabilidade das três esferas de governo, Federal, Estadual e Municipal. Segundo Baptista (2007, p. 51) “O SUS insere-se em um contexto mais amplo da política pública a seguridade social que abrange, além das políticas de saúde, as políticas de previdência e assistência social.” O SUS é mais do que seus prédios e equipamentos, é também o entendimento de saúde, seus profissionais e, principalmente, os usuários, que somos todos nós.
Para garantir todos estes direitos políticos, o cidadão deveria e deve assumir sua parte, que é previsto também na constituição federal, ou seja, através do controle social, exercido através da participação popular nos conselhos, conferencias e nas entidades sociais, como Sindicatos, associações, entre outras. Esta é uma função política, aqui entendida como uma ferramenta de ordenação da sociedade. Maar (1985, p.22) diz que “a própria atividade política, longe de ser apenas voltada a uma transformação do ‘mundo objetivo’ com vistas ao futuro, significa, no presente, o exercício de uma atividade transformadora da consciência e das suas relações com o mundo.” Essa atividade política, exercida no dia-a-dia, parece ter mudado seu Cirilo, pois este cobra seus direitos. Porém não parece ser tão efetivo na Enfermeira Nadilma, uma vez que aceita exercer, seja por pressão, seja por miopia social, função que não é sua, como por exemplo substituir as atividades do médico.
A Enfermagem pode fazer diversos trabalhos no SUS, inclusive consultas para diversos problemas de interesse de saúde coletiva, como Diabetes, Hipertensão, Hanseníase, Tuberculose e outras. No entanto não cabe a Enfermeira suprir a deficiência de profissionais ou substituí-los. Cada profissional tem suas atribuições normatizas pelos conselhos de classe e um não deve fazer o trabalho do outro.
A portaria 648/2006, diz que cabe ao Enfermeiro no PSF:
I - realizar assistência integral às pessoas e famílias na USF e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários.
II - realizar consultas de enfermagem, solicitar exames complementares e prescrever medicações, observadas as disposições legais da profissão e conforme os protocolos ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo Ministério da Saúde, os gestores estaduais, os municipais ou os do Distrito Federal.” (NR)
III - planejar, gerenciar, coordenar e avaliar as ações desenvolvidas pelos ACS;
IV - supervisionar, coordenar e realizar atividades de educação permanente dos ACS e da equipe de enfermagem;
V - contribuir e participar das atividades de Educação Permanente do Auxiliar de Enfermagem, ACD e THD; e
VI - participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado funcionamento da USF.

Se o Enfermeiro for fazer, como fez Nadilma, atender as consultas médica, quando vai fazer o trabalho que lhe compete?

REFERENCIAS
·     BAPTISTA, T. W. D. F. História das políticas de saúde no Brasil:  a trajetória do direito à saúde. In: MATTA, G. C. e PONTES, A. L. D. M. (Ed.). Políticas de saúde: organização e operacionalização do sistema único de saúde. / Organizado por Gustavo Corrêa Matta e Ana Lúcia de Moura Pontes. Rio de Janeiro: EPSJV / Fiocruz, v.1, 2007.  p.29-60. 
·     BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil. . FEDERAL, Brasília: Senado Federal. 1 2010.
·     MAAR, L. W. O que é política. 1ª. São Paulo: Abril cultural / Brasiliense, 1985.
·     BRASIL. Portaria 648 - Política nacional de atenção básica: Ministério da Saúde 2006.



[1] Discutir a saúde enquanto direito do cidadão e o que existia antes da criação do SUS;
[2] Discutir o que é Política;
[3] Discutir o SUS enquanto Política de Saúde;
[4] Discutir a conduta da Enfermeira;
[5] Discutir a reforma sanitária e a criação do SUS;

 PROCESSO SAÚDE DOENÇA E MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE

O QUE SE SABE E O QUE SE SENTE

José, 55 anos, morador do município de Tucano (48.740 habitantes), hipertenso com placas de ateroma, faz tratamento para a arritmia cardíaca que sofreu há dois anos devido ao stress que teve com a política e nos últimos 5 meses  está com muitas dores[1] e manchas avermelhadas no corpo e reclamando de falta de ar. Foi ao sistema de saúde e acabou fazendo uma baciloscopia e espirometria descobrindo que estava infectado com uma bactéria intracelular chamada Mycobacterium leprae, que provoca uma patologia infecciosa chamada Hanseníase[2] e prejudicando seu sistema e demonstrando os seguintes resultados[3]:
Frequência respiratória: 20 MVR;
Volume corrente: redução de 15% dos valores normais;
Capacidade Residual Funcional: Dentro dos valores normais;
Volume de reserva Inspiratório: redução de 25%;
Ao ouvir o diagnóstico, seu José esconjurou: “valha minha nossa senhora aparecida, isso só pode ser castigo de Deus. A doença de Lázaro[4].” E caiu em desespero[5]. O médico assustando com o descontrole do homem não soube exatamente onde errou ao dar o diagnóstico e chamou a Enfermeira para tentar entender[6].
- Por que essa reação a um diagnóstico de Hanseníase, o tratamento é muito simples.
- Para você, disse Neusa a Enfermeira, hanseníase é apenas mais um diagnóstico de doença, mas para algumas pessoas, como seu José, essa doença representa um castigo de Deus.
- Não consigo entender isto. Doença é uma coisa simples, basta uns exames e a medicação certa e pronto[7]. Disse o médico.
- Para outras pessoas, disse Neusa, doença é mais que isso.
A cidade de Tucano apresenta um número de pessoas com 50 anos ou mais de 12.185 o que corresponde a 25% da população. Desde o ano de 2008 até 2012 reduziu a proporção de óbitos nesta faixa etária de 62 para 55%, respectivamente. Deste quantitativo, até o momento não ocorreu nenhum óbito por hanseníase na cidade, pois os medicamentos são oferecidos no sistema de saúde, a maioria dos óbitos nesta faixa etária são ocasionados pelo descontrole de doenças crônicas como a hipertensão do seu José, que leva indivíduos em idade produtiva a morte ou à invalidez.
Resultado da Espirometria:
CPT:
CV:
CI:
CE:
CRF:
VRI:
VC:
VRE:
VR:










A SAÚDE ONTEM E HOJE
Ernande Valentin do Prado

Este texto trata-se de um modelo de resposta possível para a prova de 40% da turma de segundo período do calendário alternativo. É exatamente como ele precisa ser tomada, como modelo, resposta possível e não como padrão ou resposta única. Foi elabora para servir de modelo, sobretudo para estudantes com dificuldade de leitura e escrita. Por isso tem um aspecto didático. Foi elaborado levando em conta as competências e as leituras solicitadas na disciplina de processo saúde doença a partir do caso: O que se sabe e o que se sente.
O caso fala de Seu José, morador da cidade de Tucano, Bahia. Ele é um cidadão que tem se aborrecido muito por conta da política e, a partir de dores generalizadas, foi diagnosticado com Hanseníase. Aparentemente seu José é uma pessoa religiosa, pois associou a doença com o Mau de Lazaro, que é uma figura bíblica e mais que isso, com o significado histórico de ter lepra, como era conhecida a doença.
Scliar (2007) diz que saúde/doença já foram pensadas como merecimento ou castigo divino e Seu José deve ter associado isto. É provável que acredite que esteja sendo castigado por algum pecado, isso explica o desespero dele.
O que se entende por saúde ou doença varia conforme a época e define também a assistência prestada ao individuo doente ou para que não adoeça. No tempo quem em Hanseníase era considerado um castigo por ofender a Deus, a assistência à saúde consistia basicamente de fazer a vontade divina, contribuir para que os pecados fossem expiados para voltar a ter saúde ou realizar a passagem para o mundo sobrenatural. Mas também já se entendeu de outras formas, como cita Prado, Santos e Cubas (2009, p. 25):

No período nômade, há mais de 10 mil anos, o principal objetivo dos homens era a sobrevivência. Seu tempo era dividido entre a busca de alimentos através da caça, pesca coleta de frutos silvestres e pela constante luta contra e/ou fuga de animais ferozes.
Os homens primitivos explicavam a saúde e a doença e buscavam solucionar os problemas desta relação a partir de um sistema de ideias de cunho mágico, religioso e sobrenatural. Os bruxos e sacerdotes cuidavam dos doentes e tinham nas práticas ritualísticas sua principal característica.

Ainda hoje entender o processo saúde/doença é um esforço de reflexão, pois estar ou não com saúde depende da conjuntura social, econômica, política e cultural e até de interesses econômicos dos profissionais de saúde e da indústria farmacêutica, entre outros. Entender de fato e conseguir transitar sem preconceito por esses conceitos, depende, segundo Scliar (2007), dos valores individuais, concepções científicas, religiosas e filosóficas, mas também de ter ou não condições de adoecer, pois, Minayo (1997), diz que reconhecer-se ou não doente depende de ter ou não condições financeira para isto, pois parte da população associa ter saúde com poder trabalhar e estar doente, para muitos, é passar fome.
É Minayo (1997) quem explica também as diferentes reações entre Seu José e o Médico, pois segundo ela a população e os profissionais de saúde têm visões distintas do que seja saúde/doença.

Quando uma pessoa procura o médico, este não quer saber de que ambiente ela vem, que problemas enfrenta. Importante é localizar a doença, entendida como uma especialidade, e o corpo doente é encarado como espaço da doença, e não como espaço da vida.

Provavelmente é por isso que o médico não conseguiu entender o desespero de Seu José. Para o médico a doença é algo que dá no corpo, causado por vírus ou bactéria, por exemplo, e que se trata com medicações, mas para população é mais que isso, pois associam com diversas outras questões, como as sociais, financeiras e espirituais. “Na verdade, quando está falando de doenças, a população está se referindo a um conjunto de situações infelizes na sua vida, enquanto ao médico interessa, para diagnóstico, os sintomas que configurem a doença enquanto ente biofisiológico” Minayo (1997, p. 38).
Prado, Santos e Cubas (2009, p. 28,29) dizem que “Hoje o conceito de saúde que mais se aproxima da realidade da população e que mais possibilidades de intervenção na realidade social oferece é o conceito de saúde do SUS.” Acrescentam ainda que este conceito entende a saúde a partir dos determinantes sociais, ou seja, para ter saúde precisa ter alimentação, moradia, emprego, lazer, liberdade de expressão e organização social, entre outras coisas.
Embora, tanto o médico, quanto a Enfermeira possam cuidar, Waldow (2008), diz que esta função parece ser melhor desenvolvida pela Enfermagem. Essa característica do saber/fazer da Enfermagem pode ser uma explicação do porque o médico precisou que a Enfermeira lhe explicasse o descontrole de Seu José.  Uma característica do trabalho da Enfermagem é passar mais tempo do lado do indivíduo que o médico, que vem faz o diagnóstico e prescreve a medicação. O enfermeiro permanece, nos hospitais, por exemplo, 24 horas ao lado do doente, por isso consegue entender melhor sua fala, seu pensar, seu modo de ser. Esta é outra explicação possível.
 
REFERENCIA


·          SCLIAR, M. História do conceito de saúde. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 17, p. 29-41,  2007.

·      MINAYO, M. C. D. S. Saúde e doença como expressão cultural. In: MINAYO, M. C. D. S.;FILHO, A. A., et al (Ed.). Saúde, Trabalho e Formação Profissional. . Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1997.
·          PRADO, E. V. D.; SANTOS, A. L. D.; CUBAS, M. R. Educação em saúde utilizando rádio como estratégia.  Curitiba: CRV, 2009.



[1] Discutir sobre dor crônica;
[2] Discutir os aspecto biopsicossociais e espirituais da hanseníase;
[3] Discutir sobre as alterações respiratórias;
[4] Concepção de doença como castigo divino;
[5] Evolução do conceito de saúde – concepção biologicista e mágico;
[6] Aspecto cultural do processo Saúde/doença, diferença entre trabalho da enfermeira e do médico;
[7] Concepção biomédica de saúde;

HISTÓRIA DA ENFERMAGEM E BASES PARA O CUIDADO

CUIDADO OU PROCEDIMENTO

Josefina tem 37 anos de idade, é tabagista, etilista desde a adolescência e seu diabetes tipo II está descompensado. Ela mora em Tubiacanga com seu marido e filhos, não tem outros familiares[1]. Quando não consegue cuidar da casa e dos filhos recebe espontaneamente a ajuda de Dona Cotinha, vizinha mais velha que a adotou como filha[2].  
Há pouco fora descoberto que Josefina estava com esteatose e evoluiu para hepatite e cirrose hepática. Josefina estava apresentando mudança no comportamento, muito nervosa, violenta e desorientada, situação que irritava profundamente as Enfermeiras[3] de plantão. Certa vez, em crise, foi amarrada na cama durante toda noite e ficou com hematomas durante muitos dias[4]. A partir de mais avaliações identificou-se encefalopatia relacionada ao intenso uso de álcool por muito tempo da vida.
Josefina há 20 anos sofre com complicações do Pé Diabético, inclusive, a partir de uma escoriação com sangramento no halux, teve lesão, isquemia e trombose.


O CUIDADO É MAIOR QUE A ENFERMAGEM
Ernande Valentin do Prado

Este texto trata-se de um modelo de resposta possível para a prova de 40% da turma de primeiro período noturno. É exatamente como ele precisa ser tomado, como modelo, resposta possível e não como resposta única. Foi elabora para servir de modelo, sobretudo para estudantes com dificuldade de adaptação, de leitura e escrita. Por isso tem um aspecto didático. Foi elaborado levando em conta as competências e as leituras solicitadas na disciplina de História da Enfermagem e bases para o cuidado: cuidado ou procedimento.
Josefina é uma mulher de 37 anos que tem diversos problemas. Estes são biofisiológicos, sociais e psicológicos. Como todo ser humano, o que ela precisa é de cuidados, mas o que é cuidado exatamente, como ele deve ser realizado, quem pode cuidar?
O ser humano é um dos seres mais frágeis fisicamente do universo e o cuidado, segundo Collière in Oguisso (2007), destina-se a preservar e manter a vida, seja individual ou coletivamente. Boff (1999, p. 33) diz que o “cuidado é uma atitude. E talvez seja por isso que Dona Cotinha tenha adotado Josefina, pois tem essa atitude de cuidar, importar-se com o próximo. Haidegger (1889-1976) in: Boff (1999) diz que o cuidado é ainda anterior a atitude, pois se encontra na raiz do ser humano. Isto pode explicar por que vizinhos, aparentemente sem motivos, ocupam-se em ajudar-se, preocuparem-se uns com os outros.
O texto diz que Dona Cotinha adotou Josefina como filha e que, além de cuidar dela, ainda preocupa-se com os filhos e a casa. Isso parece ter haver com o que diz Waldow (2008) ao afirmar que o cuidador nem sempre escolhe cuidar, mas é acionado por uma força moral. Força que ela colocou a serviço ao ver Josefina precisando.
Essa ação moral é comum a todo ser humano. Alguns têm mais outros menos. Alguns conseguem enxergar mais possibilidades de exercer o cuidado outros menos, mas todos a possuem, mesmo que não a exerça com frequência. Embora muitos autores, como Waldow (1998, 2004, 2007, 2008), Leininger (1991) Watson (2005) consideram o cuidado a essência da Enfermagem, não devemos esquecer que cuidado, como já frisado por Boff e haidegger, é capaz de ser realizado por todo ser humano. O que difere o cuidado de Enfermagem do cuidado humano em si é que a Enfermagem o exerce de forma profissional. Oguisso (2007) diz que o cuidado é o objeto da profissão. Collière in: Oguisso (2007) diz que o cuidado nem sempre pertenceu a Enfermagem ou a qualquer profissão, mas a todo ser capaz de cuidar. O Pequeno Príncipe diz que o Cuidado é invisível por ser essencial, uma vez que, concordando com Boff, Collière, Waldow, entre outros, o cuidado é essencial e “o essencial é invisível aos olhos.” Talvez por isso o trabalho da Enfermagem passe despercebido às vezes. Mas não é isso que acontece com o cuidado realizado por pessoas como Dona Cotinha no dia a dia?
Josefina tem muitos problemas de saúde, como diabetes descompensa, etilismo e esteatose. Talvez por isso seja muito fácil confundir cuidar de Josefina com o cuidar de seus problemas, suas doenças. Waldow (2008) diz que muitos profissionais confundem cuidar com executar procedimentos. Sendo cuidado mais que uma atitude moral, não pode ser confundido com “fazer” embora o fazer seja parte indissociável do cuidado de Enfermagem. Waldow (2006) in: Waldow (2008, p. 11) diz que “na verdade o cuidado é uma arte que pressupõe a técnica.” Pode se apreender disto que a técnica, o procedimento pode ser executado sem cuidado, apenas com o objetivo de sanar uma necessidade física e profissional, mas que isto nem sempre se traduz em cuidado. No caso fica evidente que a Enfermagem não conseguiu ter o cuidado verdadeiro, que, segundo Boff (1999), pressupõe amor, desvelo, dedicação pelo próximo e nem mesmo executar as técnicas de Enfermagem de forma eficiente. Isso fica claro pela forma como Josefina foi amarrada durante sua crise. A enfermagem amarrou Josefina para que não incomodasse. Amarrar a pessoa em crise não é errado, pode inclusive ser uma atitude de cuidado, portanto vai da maneira como se faz isso, como se encaminha e procura evitar complicações.
No filme o nome do Cuidado, um dos personagens diz “que não se cuida de quem não se conhece”. Quando se conhece a pessoa pode ser criar vínculo com ela e daí o cuidado nasce, porém procedimentos podem ser executados em desconhecidos.  “só cuida quem sabe o nome do cuidado.” E parece que a equipe que cuidado de Josefina não sabia este nome.
Prado, Santos e Cubas (2009) dizem que vivemos tempos de descaso generalizado, seja  no  âmbito institucional  com  os  profissionais de saúde, como aconteceu no caso, ou seja, amarraram Josefina de modo a deixa-la com hematomas. Mas isso acontece nas famílias também, não é verdade? No entanto ainda existem pessoas como Dona Cotinha, que sem motivo, sem remuneração, sem preparo especial, ainda se dedica ao cuidado. Boff (1999) diz: “Construímos o mundo a partir de laços afetivos. Esses laços tornam as pessoas e as situações preciosas, portadoras de valor.”  A personagem Raposa do livro O pequeno Príncipe, diz que quando somos cativados e cativamos temos necessidade uns dos outros e conseguimos diferir o objeto cativado entre todos os outros. Josefina, com duas dores e dificuldades cativou Dona Cotinha por algum motivo e desta relação, mesmo que não percebamos as duas saem ganhando.

REFERENCIAS

  • BOFF, Leonardo. Saber Cuidar, Ética do Humano - Compaixão Pela Terra. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
  • PRADO, Ernande Valentin; SANTOS, Adilson Lopes; CUBAS, Marcia Regina. Educação em saúde: utilizando rádio como estratégia. 1. ed. Curitiba : Editora CRV, 2009.
  • OGUISSO, Taka. (Org.) Trajetória histórica e legal da enfermagem. 2. Ed. Barueri-SP: Manole, 2007.
  • ROSENBAUM, Paulo; LAMA, Leo. O nome do cuidado. Sputinik filmes. 2009.
  • SAINT-EXUPÉRY, Antoine. Pequeno Príncipe. São Paulo: Circulo do Livro, 1994.
  • WALDOW, Vera Regina. Bases e princípios do conhecimento e da arte da Enfermagem. Petrópolis: Vozes, 2008.

[1] Necessidade de vínculo e cuidado como forma de inserção no mundo;
[2] O que é cuidado e suas formas de expressão;
[3] O que é cuidado de enfermagem;
[4] Isto é cuidado, qual a diferença entre cuidado e cuidado de enfermagem;


 [E1]Tiago, veja se encefalopatia serve para anatomia.... caso não dê certo veja para trocar AVE, motivo colesterol aletrado com formação de embolia gordurosa.


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