O SABER DA ENFERMAGEM E A FEIRA DE PARIPIRANGA


Tenho escrito aqui no blog muito sobre o saber da Enfermagem. Isso, algumas vezes é muito abstrato. Por isso é sempre bom um relato de experiência, uma vivência que torne palpável a discussão.
Essa semana tenho um exemplo vivenciados no PROJETO SAÚDE E CIDADANIA NA FEIRA, que realizamos toda sexta na Feira de Paripiranga.
Nossas atividades são voltadas para o TRABALHADOR FEIRANTE. Começamos faz poucas semanas. E as atividades restringem-se basicamente a verificar a Pressão Arterial e o nível de Glicemia Capilar das pessoas diagnosticadas com diabetes. Além disso, há as orientações, o contato entre estudantes e trabalhadores. E principalmente, a interação entre eles. É dessa interação que esperamos construir os vínculos que nos proporcionará conhece-los de verdade e aí conseguir contribuir para a melhora do estado de saúde e, consequentemente, da qualidade de vida. Além disso, é claro, contribuir com a formação de Enfermeiras com sensibilidade para o trabalho em APS, focada na alteração das iniquidades em saúde e na construção do cuidado como forma de SABER/FAZER/AGIR da e na Enfermagem.
TRÊS EXEMPLOS
Ainda é muito sendo para fazer avaliações. Mas há três exemplos interessantíssimos que percebemos e discutirmos na reunião de encerramento desta semana.
1.   Homem. Pressão alterada.
Pressão Arterial no primeiro contato 180/120.
Não fazia uso regular da medicação. Havia abandonado o tratamento. Sedentário, sobrepeso, sem nenhum controle da alimentação.
Terceiro atendimento:
Voltou a fazer uso das medicações. Controlar (um pouco) a alimentação.
Pressão Arterial neste dia 140/90

2.  Homem. Pressão e glicose alteradas.
Pressão Arterial no primeiro contato 160/100. Glicose 267
Não fazia uso regular da medicação. Havia abandonado o tratamento porque os sintomas desapareceram. Sedentário, sem nenhum controle da alimentação.
Terceiro atendimento:
Voltou a fazer uso das medicações. Controlar a alimentação.
Pressão Arterial neste dia 120/80. Glicose 120 Mg/Dl.

3.  Homem. Pressão alterada.
Pressão Arterial no primeiro contato 240/140.
Não fazia uso regular da medicação. Assintomático. Sedentário, sobrepeso, sem nenhum controle da alimentação.
Terceiro atendimento:
Voltou a fazer uso das medicações regularmente. Controlar o peso e fazer exercícios físicos. Já perdeu 3 quilos.
Pressão Arterial neste dia 130/90.

Esses três exemplos não podem ser tomados como prova da eficácia do trabalho apresentado, até porque foram mínimos e durante pouquíssimo tempo. Nem ao menos se trata de uma amostra de pesquisa. São apenas lembranças do fazer cotidiano das estudantes. Também não consigo vislumbrar efeitos terapêuticos efetivos em verificar a pressão ou a glicemia.
No entanto há algumas considerações que parecem muito pertinentes.
Verificar a pressão ou a glicemia de alguém pode ser apenas um gesto mecânico. Um procedimento técnico. Mas pode também ser um veículo de encontro entre o profissional (no caso as estudantes de enfermagem) e a pessoa que demanda atenção (no caso o feirante).
Junto com o ato, o procedimento, vai também à palavra, a escuta, o gesto de carinho, o sorriso, o importar-se, atenção, orientações. Enfim, o cuidado de Enfermagem. Quero acreditar que foi isto que fez a grande diferença nos níveis da pressão arterial e do nível de glicose no sangue. E é isso que motivou estas três pessoas a buscar em si forças para controlar seus problemas. E isso não é pouco.
As estudantes que estão fazendo parte do Projeto Saúde e Cidadania na Feira não estão apenas VERIFICANDO PRESSÃO e GLICEMIA CAPILAR. Estão dedicando seu tempo, sua atenção para contribuir com a qualidade de vida do trabalhador feirante. Para despertar neles a vontade, a necessidade do autocuidado.
A finalidade não é a quantidade de pessoas atendidas, não é o procedimento técnico que está sendo desenvolvido, não é a quantificação de feirantes com pressão alterada que importa para no final do período escrever um artigo ou uma monografia, mas colaborar com o emponderamento do sujeito, para que assim ele possa melhorar sua condição de saúde. É isso que parece ter acontecido com essas três pessoas, ou seja, foram cuidadas, sentiram se importantes para essas meninas e a partir disto sentiram-se importantes para si mesmos e controlaram a pressão e a glicemia.
Ainda há muito que fazer. Podemos fazer. Vamos fazer





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