AVALIAÇÃO BASES PARA O CUIDADO E HISTÓRIA DA ENFERMAGEM

Quainta-feira - 22/04/2010

Waldow[1] (2008, p. 10) pergunta: “E o que representa o Cuidado na Enfermagem? Se o que faz a Enfermagem é cuidar, é preciso fundamentá-lo.” Parece certo afirmar que o que entendermos hoje por cuidado não era o mesmo que se entendia e o que se entende em outras regiões ou épocas. Rodgers (2005) in: Waldow (2008) diz que: “o que torna [o cuidado] válido para as enfermeiras não é somente o que se faz, mas o conhecimento que fundamenta suas ações.”

Pensando nas afirmações das duas autoras, escreva um texto onde relate as fases mais importantes da história da Enfermagem[2], discuta o que era cuidado nos diferentes contextos temporais e cultuais, ou seja, o que era ser Enfermeiro ou Enfermeira nos primórdios da Humanidade, no período pré-Cristão, no período Cristão, período de Decadência e período de Profissionalização da Enfermagem[3]. Conclua discorrendo sobre a importância do cuidado enquanto essencial maior da Enfermagem[4].

O QUE SIGNFICA SER ENFERMEIRO[5]

Ernande Valentin do Prado[6]

A Enfermagem pode ser definida pelo que faz. E parece certo afirmar que o que a Enfermagem faz é cuidar. Mas sem entender o que é cuidado isso fica muito vago e não responde praticamente nada. Também parece válido dizer que o cuidado nem sempre foi entendido da forma como se entende hoje. Em diferentes épocas e culturas certamente ele tinha outros significados. Portanto a história da Enfermagem pode ser descrita e entendida a partir do que era o cuidado para Enfermagem, no que consistiam suas atividades enquanto cuidado nas diferentes épocas e culturas.

A Enfermagem só se tornou profissão em fins do século XIX no contexto das profundas transformações pelas quais passava a Europa com a revolução industrial.

Florence Nightingale foi à principal responsável pela guinada da Enfermagem de uma atividade voluntária e empírica para uma profissão. Até Florence a Enfermagem era vista como serviço doméstico ou caritativo. É fato que a maioria das profissões, nesta época, também não tinham reconhecimento, porém, no caso da Enfermagem era um pouco mais grave, pois ficou muito tempo enclausurada nos hospitais religiosos, sendo prática empírica e desarticulada. E a reforma protestante do final da idade média serviu como ponto de maior desagregação ainda (GEOVANINI, 2002).

É importante observar que a Enfermagem só se constitui profissão do cuidado a partir do século XIX, mas sua história remonta os primórdios do homem na face da terra. Geovanini (2002) diz que a Enfermagem é tão antiga quanto à humanidade, porque é inerente a sobrevivência humana. Cuidado, afirma Boff (1999), sempre existiu, desde o inicio da espécie humana na face da terra. Claro parece estar que Geovanini fala da Enfermagem enquanto cuidado, pois, como se sabe enquanto profissão é citada em poucas culturas, como na Índia, por exemplo. Os Hindus “Foram os únicos, na época pré-cristã, que citaram enfermeiros e exigiam deles qualidades morais e conhecimentos científicos. Geovanini (2002).

Nos primórdios da humanidade e mesmo no período pré-Cristão não existiam as profissões da saúde como conhecemos hoje. Enfermagem, Medicina e Farmácia eram “cuidados” exercidos geralmente pela autoridade espiritual das tribos. Além deste aspecto é preciso ressaltar que mesmo antes da Enfermagem ser exercidas pelos Cristãos, ela sempre esteve ligada a questão religiosa. Geovanini (2002 p. 5) diz que a Enfermagem foi influenciada “pelas doutrinas e dogmas das mais diversas correntes religiosas. Do paganismo ao budismo, passando pelo judaísmo e pelo islamismo, até o cristianismo”. Isso quer dizer que na base do cuidado ou da Enfermagem o aspecto religioso foi muito forte. Essa característica pode explicar ainda hoje uma série de estereótipos na profissão, como a abnegação, o espírito de caridade e até mesmo a submissão e a aceitação do sofrimento inerente ao cuidar das dores dos outros.

Boff, (1999) diz que desde a origem da humanidade o cuidado se fez necessário. Mesmo no período nômade o cuidado era exercido pela mulher, pois era ela quem cuidava das crianças, velhos e feridos. Collière, citada por Oguisso (2007), diz que cabia a mulher cuidados relativos ao nascimento das crianças e cuidados com os moribundos. Também era função inerente a condição da mulher preparar os alimentos, aqui compreendido desde plantar até por na mesa. Alimentar a família, cuidar das feridas do “caçador” era, entre outras, a obrigação desta cuidadora. E foram essas funções essenciais a vida, como fala Boff, Collière e outros, que deram origem a Enfermagem. Ou seja, eram as atividades domestica as principais atividades de cuidado nos primórdios. E não houve muitas mudanças no período pré-Cristão.

Talvez a principal mudança ocorrida entre os primórdios da humanidade e o período Pré Cristão tenha sido a execução de atividades prescritas pelos lideres espirituais em diferentes configurações. Esse período marca o deslocamento do poder de cura das mulheres para os homens. Geovanini (2002) diz que os homens perceberam que curar trazia poder e se apoderaram desta função que antes era essencialmente feminina.

Segundo Geovanini (2002) o cuidado existiu em todos os períodos e cultura, sendo bastante desenvolvido na Índia, onde já se mencionava a Enfermagem, Egito, Grécia, onde muitos historiadores acreditam ter nascido à medicina, Japão e outros. Mas foi com o Cristianismo que a Enfermagem começou a se desenvolver verdadeiramente. Neste período acreditava-se em oferecer cuidado como forma de amar o próximo. Fazia-se esse trabalho como forma de agradar a Deus e garantir um espaço no Céu.

“Os enfermos eram recolhidos às diaconias, que eram casas particulares, ou aos hospitais organizados para assistência a todo tipo de necessitados.

Mesmo com alguns avanços conseguidos após o século V e as especulações filosóficas da Grécia, o período Cristão ainda é caracterizado pela especulação empírica. Mas já se observava a natureza e algumas condições sociais como forma de explicar a saúde e a doença. Mas as explicações prevalentes ainda eram basicamente espirituais.

A Enfermagem ainda hoje tem várias características desta época, como a abnegação, o sentimento de sacerdócio da profissão e a visão religiosa que perdura em muitos profissionais. A visita domiciliar, que vai caracterizar a medicina no futuro ou o PSF no Brasil, era uma característica da Enfermagem desta época. As Enfermeiras iam de casa em casa oferecer seus serviços aos necessitados.

Até o período medieval e a reforma protestante a Enfermagem vem construindo uma história exemplar com mais avanços que retrocessos, porém com a reforma protestante na Europa a Enfermagem, exercida principalmente por religiosas Católicas, é totalmente desarticulada nos países onde houve a reforma com maior ênfase, como Alemanha, Inglaterra e Suíça. Com a desagregação o estado nascente coloca no lugar das religiosas, que exerciam a Enfermagem “por amor ao próximo” e esperando a recompensa após a morte, pessoas sem aptidão para função. Em muitos casos mulheres condenadas por prostituição e bebedeira podiam escolher entre ir presas ou trabalhar como Enfermeiras. Essa fase, conhecida como o período de decadência da Enfermagem, influenciou outra forma de ver a Enfermagem e criou a imagem da Enfermeira bruta, desumana e sem conhecimentos técnicos. Resquícios desta herança perduram ainda hoje, como por exemplo a idéia que muitos estudantes têm de que para ser Enfermeira ou Enfermeiro não precisa saber muita coisa, que basta boa vontade e braços fortes.

Esse período dura aproximadamente dois a três séculos e a partir daí a história da Enfermagem muda novamente.

A partir de Florence Nightingale e a Revolução Industrial a Enfermagem deixa de ser uma atividade domestica ou caridade e ganha status de profissão voltada para manutenção da força de trabalho. Geovanini (2002) diz que a Enfermagem moderna nasce ligada a reorganização hospitalar e que é o médico o principal responsável por essa reordenação.

Cria-se uma hierarquia dentro do hospital, que deixa de ser apenas um local aonde as pessoas vão para morrer ou receber cuidados para ter a função de manutenção da força de trabalho. O hospital passa ser um local produtor de serviços de saúde. A Enfermagem entra nesta reorganização hospitalar de forma subalterna, executando o serviço que os médicos lhe permitiam ou que não queriam fazer.

Como o texto demonstra o cuidado sempre foi à base da Enfermagem. Se até o século XIX ele era exercido de forma empírica e voluntária ou no âmbito doméstico, geralmente pela mulher, com Florence e as transformações trazidas pela revolução industrial, ele passa a ser exercido enquanto um serviço pelo qual se deve pagar. O que quer dizer também que algumas pessoas passam a viver com vencimentos propiciados pelo cuidado, sobretudo a mulher. Mesmo assim não perde sua característica de sacerdócio e isso é parte das explicações do porque a Enfermagem ainda hoje recebe vencimentos parcos se comparados a outras profissões da saúde.

A Enfermagem é inegavelmente a profissão do cuidado. Cuidado, afirma Boff (1999), sempre existiu, desde o inicio da espécie humana na face da terra. O que mudou foi que em determinado período ele passou a ser exercido profissionalmente e desta forma foi pesquisado, repensado e redefinido em outras bases. Hoje temos uma serie de obrigações derivadas do cuidado e a cada dia incorporam-se novas demandas e definições do que seja essa atividade e por conseqüência o que seja a obrigação da Enfermagem.

Ser Enfermeiro não é pouca coisa, pois tem uma tarefa, que segundo Boff (2002), Colliere, Oguisso (2007), Waldow (2008) e tantos outros pensadores, está na base da sobrevivência humana. Mesmo assim ainda há, por parte de alguns a idéia errônea de que a Enfermagem é uma profissão menor, que não exige “tantos conhecimentos e habilidade para exercer.” Superar essa visão estreita é tarefa urgente que cabe a todos que se identifica com a profissão, especialmente profissionais e estudantes de Enfermagem. E essa valorização passa certamente por estudar e qualificar o trabalho da Enfermeira enquanto cuidado, pois ele é essencial a sobrevivência da espécie humana.

REFERÊNCIAS

· BOFF, Leonardo. Saber Cuidar, Ética do Humano - Compaixão Pela Terra. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

· GEOVANINI, Telma. In: GEOVANINI, Telma; MOREIRA, Almerinda; SCHOELLER, Soraia Dornelles; MACHADO, Wiliam C. A. História da Enfermagem – versões e interpretações. Rio de Janeiro: Revinter, 2002.

· OGUISSO, Taka. (Org) Trajetória histórica e legal da Enfermagem. 2. Ed. Barueri: Manole, 2007.

· WALDOW, Vera Regina. Bases e princípios do conhecimento e da arte da Enfermagem. Petrópolis: Vozes, 2008.



[1] WALDOW, Vera Regina. Bases e princípios do conhecimento e da arte da Enfermagem. Petrópolis: Vozes, 2008.

[2] OGUISSO, Taka. (Org.) Trajetória histórica e legal da enfermagem. 2. Ed. Barueri-SP: Manole, 2007.

[3] SANTOS, Álvaro da Silva. A enfermagem na gestão em atenção primaria à saúde. Barueri: Manole, 2007.

[4] WALDOW, Vera Regina. Cuidar – expressão humanizadora da enfermagem. 2. Ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

[5] Texto produzido a partir do enunciado da prova de Bases para o cuidado de Enfermagem e História da Enfermagem. A intenção maior é servir de exemplo para os estudantes.

[6] Enfermeiro/Sanitária, Professor do Curso de Enfermagem da Faculdade AGES – Paripiranga/BA. Membro da Rede de Educação Popular e Saúde, autor do livro: EDUCAÇÃO EM SAÚDE UTILIZANDO RÁDIO COMO ESTRATÉGIA.

Comentários

Unknown disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse…
Gostei muito do texto, além se ser um texto confiável, possui muitas bibliografias dos livros de grandes autores. Gostei não só do texto, como também das postagens, livros e filmes indicados de grande valor. Servem para aumentar nosso conhecimento. Precisamos de pessoas que fazem a diferença!

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