O CUIDADO A MINHA FILHA E A NOTÍCIA DE JORNAL

Minha filha Alice hoje tem 2 anos. Nasceu em Rio Negro, Mato Grosso do Sul no ano 2008. O pré-natal foi acompanhado na Unidade de Saúde onde trabalhava. Tenho um vídeo sobre isso, chama-se ALICE NASCEU e está disponível no You Tube.

Lembro bem o dia que ela nasceu. Lembro bem de todo pré-natal na verdade, mas os últimos dias foram especialmente difíceis, não porque tenha saído do planejado ou do normal, mas por conta do serviço de saúde, especialmente do serviço médico hospitalar.

Um dia antes de Larissa dar a luz formos ao hospital porque ela estava sentido-se mau e com a pressão alterada. Mais ou menos 3 milímetros de mercúrio. O médico que atendeu, recém chegado na cidade, entrou na sala com um cheiro muito forte de cigarro. Mediu a pressão e disse que estava boa. Não conhecia e nem quis levar em conta a história da gestação. Informado que a pressão havia subido bruscamente 3 milímetro disse que não tinha problema nenhum e que o bebe ainda levaria uns 3 ou 4 dias para nascer.

No dia seguinte voltamos ao hospital porque a bolsa rompeu. Chegando lá era o mesmo médico. Já estava na porta fumando. Sem nem mesmo avaliar internou e disse que ia chamar a ambulância para transferir para capital, pois era muito arriscado fazer o parto na cidade.

Isso foi muito revoltante porque desde sempre nos preparamos para que Alice nascesse em Rio Negro, pois foi à cidade que havíamos escolhido para viver. Mas esse desejo não dizia nada para o “Médico de Plantão”.

Disse-lhe que não queria enfrentar de 3 a quatro horas em uma estrada de chão para chegar em um hospital que não conhecíamos, com pessoas que não conhecíamos. Ele argumento que não tinha segurança para fazer o parto, que o hospital era precário e que era muito perigoso, pois alguma coisa poderia dar errado.

Rebati dizendo que tudo pode dar errado, inclusive no hospital da capital e na viagem até lá, mas que o pré-natal fora bem conduzido, que não havia problemas aparentes e que minha esposa já havia dado a luz a outras duas crianças sem nenhum problema e que preferíamos nos arriscar neste hospital com as pessoas que conhecíamos e confiávamos e caso não sentisse segurança poderia ser chamado a Dona Cleuza. Mas ele ficou mais irritado ainda. Informei-lhe neste momento que já que ele não tinha segurança que chamaria uma parteira, pois até já havia conversado com ela.

Bem o médico depois deste diálogo resolveu fazer o parto. Porém foi se preparar e 2 horas depois ainda não havia voltado. Quando fui atrás saber o que estava acontecendo ele já estava dentro de uma ambulância com outra paciente. Foi em uma transferência para capital, pois, segundo informaram o pessoal da recepção, o paciente estava muito mau. Mas que havia deixado instruções para que chamassem outra ambulância para transferir o parto. O PARTO ERA A LARISSA.

Aquela falta de consideração deixou-me muito irritado, mas pensei que foi a melhor coisa que podia acontecer para segurança e o bom andamento do parto. Disse para recepcionista que não precisava chamar a ambulância, mas sim a Parteira da cidade.

Alguns minutos depois fui procurado pelo Técnico de Enfermagem, Alexandre, grande profissional que se tornou meu grande amigo e companheiro depois disso. Ele era, naquele momento, a maior autoridade do hospital, não havia Médico, Enfermeiro, Administrador. Ele disse que não concordava com o que o médico havia feito e que, caso eu me responsabilizasse, chamaria a parteira sem problema.

Dona Neuza, parteira tradicional que já havia feito mais de 500 partos na vida, veio, fez o parto mais lindo que já vi na vida. Com técnica, paciência, carinho e dedicação.

Lembrei disso ao ler essa semana a noticia de que dois médicos “saíram no braço” na sala de parto em Naviraí, Mato Grosso do Sul.

A sociedade deu muito poder aos médicos e eles estão retribuindo como? A vida parece que perdeu o significado e uma mãe, um filho, uma família inteira é colocada em segundo plano por causa de um procedimento, um dinheiro.

Os hospitais no interior do Mato Grosso do Sul trabalham com médico em seus hospitais pagando-lhes um plantão fixo que pode chegar a mil reais. Há caso de profissionais que trabalham até 36 horas seguidas, como se isso fosse seguro, como se não representasse risco para vida dos pacientes e usuários. Além disso há os procedimentos. Geralmente recebem, além do plantão por procedimentos. Sendo os hospitais precários, em muitos casos, apenas partos são feitos. No plantão, de um modo geral, o médico não precisa fazer muita coisa. Em alguns casos nem ficam no hospital ou quando ficam querem estar dormindo e recusam-se a atender em algumas situações.

Todos os anos no Brasil formam-se inúmeros médicos, mais do que o País precisa, mas por que não estão trabalhando onde são necessários? De um modo geral quem patrocina a formação destes profissionais é a população, mas não há compromisso por parte deles, até porque não é exigido que devolvam nada para sociedade.

Até quando vai ser assim? Até quando vamos depender de profissionais que trocam soco por causa de 150 reais ou que mudam um parto normal para cesariana porque paga mais?

Nesta situação o poder público é conivente. Os maus profissionais, que em muitas situações estão ganhando muito dinheiro sem dar nada em troca, não se responsabilizam pela atenção a saúde da população, mas apenas em “tocar o plantão” e fazer as horas passar. Em muitos casos os hospitais do interior não oferecem condições mínimas para o exercício profissional, mas por que o profissional aceita trabalhar nestes locais? Em muitas situações esses hospitais só enganar a população. Serve apenas de fachada para “parecer” que as autoridades públicas estão fazendo alguma coisa pela saúde da população.

De que serviço de saúde a população precisa?

Por qual serviço de saúde a população está disposta a pagar?

Por que parteiras tradicionais não são valorizadas, não se investe no trabalho delas como alternativa aos péssimos serviços de parto que estão sendo oferecidos em muitos locais do País, como por exemplo, em Naviraí. Ou discordam que o serviço deve ser péssimo?

Isso me lembra do Josefa da Guia, parteira tradicional de Sergipe, que em seu currículo tem mais de cinco mil partos sem nenhuma morte e aposto que sem ter dado nenhum sopapo em outra parteira por causa de dinheiro.

A morte desta criança na sala de parto é uma tragédia que deve envergonhar todos os profissionais de saúde do País e do mundo, sobretudo a categoria envolvida. Mas espera-se que os responsáveis sejam punidos exemplarmente, inclusive as autoridades públicas, os dirigente do hospital, o conselhos de saúde que não acompanha a situação, o ministério público que se faz de cego para situação rotineira de descaso dos serviços de saúde do Brasil adentro.

Comentários

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