LIBERDADE DE EXPRESSÃO E APOLOGIA AO MAU FEITO

Marcelo D2, o cantor de Hip Hop, quando cantava com o PLANET HEMP, foi hostilizado, xingado e até preso por cantar "EU CANTO ASSIM PORQUE FUMO MACONHA" ou "LEGALIZE JÁ, LEGALIZE JÁ, UMA ERVA NATURAL NÃO PODE LHE PREJUDICAR".

Independentemente de considerar a maconha boa ou ruim, de ser bom ou ruim legalizar a erva ou qualquer tipo de droga, a exemplo do álcool, o tabaco, viagra e açúcar ou adoçante. A questão é: porque algumas pessoas podem defender publicamente suas ideias e outra não?

E porque lembrei-me desta questão?

Lembrei-me por conta de acontecimentos que estão se tornando rotinas em sala de aula. Ou seja, a apologia ao mau feito e ao mau feitor, a corrupção e ao "se dar bem a qualquer custo".

Tenho 6 turma de Enfermagem, 3 de primeiro período e 3 de terceiro. Das 6 em apenas 1 sala não encontrei plágio nos trabalhos acadêmicos. Em uma das sala encontrei 10. Isso me deixa aterrorizado, pois se encontrei 10, em uma sala de 70 alunos, quantos não consegui descobrir ou provar? Que tipo de profissionais estamos formando? Que tipo de cidadãos estão nas faculdades e vão se formar? E o pior, que tipo de trabalho vão prestar ao cidadão no futuro?
Pior ainda: o aluno quando é descoberto nesta situação de plágio nem ao mesmo nega. Em muitos casos ironiza dizendo: "acha que sou só eu? tem mais gente fazendo o mesmo" e depois disso "vira a cara" para o professor, como se ele tivesse lhe feito um desaforo grave ao descobrir sua manobra anti-ética e inescrupulosa." Considera-se perseguido e prejudicado por ser pego em "flagrante delito."

No caso em particular estou falando de futuros Enfermeiros e Enfermeiras. Eles vão se formar para trabalhar em hospitais, pronto socorros, centros de saúde, vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, centros de transplantes de órgão, de sangue, medula óssea, hemodiálise, centro de especialidades, ESF - Estratégia Saúde da Família e na Gestão, ou seja, vão administrar serviços e redes de saúde, vão tomar decisão sobre a vida de milhares de pessoas, vão entrar em contato com dinheiro público e privado. Se são capazes de cometer plágio, que é um crime sério, não é uma coisinha boba como muitos pensam, como permitir que estas pessoas saiam da faculdade com aval de que estão aptos a ser cidadãos? Como garantir sua idoneidade no futuro?
Waldow(1) (2008, p. 88) diz: "pensa-se que o cuidado 'humano' é 'uma atitude ética em que seres humanos percebem e reconhecem os direitos uns dos outros." Quem defende a corrupção como modo de vida está reconhecendo o direito do outros de que forma? Esta autora ainda diz na página 94 que a "honestidade é um atributo importante que capacita para o cuidado [...]

Particularmente ofereci oportunidade para os alunos que cometeram plágio. Eles só precisariam se arrepender, por a mão na consciência e apresentar um novo trabalho. Claro que não apontei o dedo e disse quais eram os alunos, pois a intenção é que se reconheçam o erro e os corrija. Mas quantos fizeram isso? Até o momento em que escrevo este texto, apenas 1 aluno admitiu o erro e se propôs a corrigir. Os outros ou estão apostando que não são deles o plágio descoberto ou não têm coragem de admitir o erro ou, o que é ainda pior, não têm nem a consciência de que fizeram alguma coisa errada.

Mas não é só o plágio que demonstra que os valores dos estudantes estão deturpados. É comum e muito chocante, ouvir estudantes em sala de aula defendendo o mau feito e fazendo apologia à corrupção e ao "se dar bem a qualquer custo e a custo de qualquer um". Esta semana uma aluna, prontamente apoiados por outros e outras, disse com todas a letras, acho que para que não houvesse dúvidas, que gosta mesmo é de cortar fila, ir em hospitais públicos e encontrar amigos que lhe passe na frente de outros pacientes e que é assim que vai fazer quando for Enfermeira. Só faltou dizer que só os trouxa não aproveitam.

Em outra sala uma estudante disse que quando se forma e for trabalhar em PSF/ESF não vai fazer visita de jeito nenhum, pois tem que se valorizar.

Em um debate sobre a situação do serviço de saúde na região, onde Enfermeiras e médicos trabalham menos que a carga horária contratada, que muitos só vão ao local de trabalho uma ou duas vezes por semana e ainda que trabalham em 3 e até 4 empregos ao mesmo tempo e horário, alguns estudantes disseram que querem se formar para fazer igual e não para modificar a situação e fazer o que é certo. Querem o diploma para ganhar dinheiro e não para fazer diferente.

E a questão é: PORQUE O MARCELO D2 FOI PRESO POR FAZER APOLOGIA A MACONHA? FUMAR MACONHA E DEFENDER SEU USO É PIOR QUE ROUBAR OU DEFENDER A CORRUPÇÃO COMO FORMA DE PROGREDIR NA VIDA? OU AINDA: É QUEM FUMA MACONHA QUE "DEFENDO O ERRADO?"
Não pensem que a intenção deste texto é defender o benefício da maconha ou da legalização da maconha, pois nem sei se existe algum benefício. A intenção é chamar atenção para necessidade de rever nossa postura para além das aparências e dos valores superficiais da sociedade.

O que causa mais problemas ao cidadão, a maconha ou a corrupção?
Essa pergunta é válida porque é simples e fácil se escandalizar com um sujeito defendendo a legalização ou o uso das drogas, mas não causa nenhuma escândalo ouvir pessoas fazendo apologia a corrupção. Muitas pessoas, algumas até que têm horror as drogas ou ao aborto, outro tema polémico, não têm nenhuma problema em admitir que se estivesse no lugar de vereadores, prefeitos ou deputados corruptos, fariam igual, pois o "importante é se dar bem."

O que fazer para que os jovens percebam que a sociedade está invertendo os valores morais e ético. O que fazer para que pessoas com o comportamento e a moral distorcidas percebam o que estão dizendo? O que fazer para impedir que pessoas com essa índole cheguem a ter um diploma que lhes possibilite prejudicar mais a comunidade e com mais força do que já estão prejudicando?
Qual o papel dos educadores, das escolas e da sociedade na correção de distorções morais e ética tão profundas? E se isso é uma falha de carater, como modificar e salvar essas pessoas de se tornarem uma arma contra si mesmo e a humanidade?
1. WALDOW, Vera Regina. Atualização do cuidar. Aquichan, vol. 8, n. 1. P. 85-96, abr. 2008.

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