O SABER ACADEMICO E O SABER POPULAR

"(...) Tenho pena e, às vezes, medo, do cientísta demasiado seguro da segurança, senhor da verdade e que não suspeita sequer da historicidade do próprio saber." (1)
Encerrou-se neste sábado, dia 26 de setembro, a terceira edição da SPC - Semana de Produção Académica da Faculdade AGES. O ato final foi realizado pelos cursos de Letras e Pedagogia coma encenação do Auto da Compadecida de Ariano Suassuna.
Nada mais apropriado para celebrar uma semana dedicada ao diálogo entre o saber popular e o saber científico. Arriano Suassuna, o escrito nordestino é um dos grandes intelectuais deste país e sua temática sempre esteve ligada ao conhecimento popular. Pode se dizer que ele construiu uma obra erudita sem deixar de ser popular ou que uma obra popular sem deixar de ser erudita. E esse ato final não poderia ser mais apropriado para encerrar uma semana inteira dedicada a pensar o saber científico e o saber popular.

Pouco antes do ato de encerramento aconteceu a Sessão Interativa com a Enfermeira Simone Leite, de Aracaju (MOPS - Movimento Popular de Saúde. ENEPS - Articulação Nacional de Educação Popular em Saúde) que debateu com estudantes e Professores a importância do dialogo entre os Movimentos Populares e a academia.

No período da manhã a atividade concentrou-se em dona Josefa da Guia, parteira da cidade de Poço Redondo em Sergipe. Ela é uma das parteiras mais conhecidas do Brasil e agora começa a ser conhecida internacionalmente. Equipes de jornalistas e estudantes da Itália e da França já estiveram visitando sua casa para descobrir a importância de seu trabalho.

Dona Josefa é muito contundente em suas certezas. Conhece seu oficio e tem opinião formada sobre a saúde e os profissionais de saúde. Não sabe ler nem escrever, mas está muito longe de ser analfabeta, como se define. Não é letrada, mas analfabeta não é, pois construiu um saber muito grande e digno de admiração e estudo. Não sabe ler textos escritos, livros, revistas e jornais, mas tem uma leitura de mundo e dos acontecimentos que lhe cerca mais do que muitos letrados e até muitos intelectuais. Além disso Dona Josefa já fez mais de 5 mil partos e nunca "perdeu nenhuma criança ou mãe". Quantos detentores da Ciência e dos instrumentos modernos podem dizer o mesmo?

Por conta desta força "as verdades" de Dona Josefa ganham muita importância. Durante a fala dela era evidente, de um lado o descrédito e de outro o deslumbramento de muitos estudantes e servidores da Faculdade AGES. E nem poderia ser diferente, pois ela tem uma dignidade, uma legitimidade e um entusiasmo contagiante, mas que pode ser difícil de crer para muitos.

Apesar da admiração de muitos, é preciso considerar que nem todos podem ou devem fazer como faz Dona Josefa. Penso que isso é evidente, mas não custa ressaltar para os mais afoitos. A intenção ao promover o diálogo entre o saber popular e saber científico que tenta se construir na academia e em especial nesta terceira edição da SPC é para que um possa contribuir com outro e não para que um substitua o outro.
Nós, Enfermeiro, professores e estudantes não temos a mesma legitimidade que Dona Josefa para fazer o que ela faz. Nem legitimidade, nem disposição e nem o saber dela. O que aprendemos aqui na Faculdade é um outro saber, uma outra forma de fazer, que tem também seu valor e sua técnica, que pode, se bem feito e com o mesmo amor, ser tão digno quanto o dela. Mas é outra forma e é assim mesmo que tem que ser. Aprender com o saber popular não é fazer igual, não é imitar.

Paulo Freire disse, e não custa repetir, que não existe um saber mais importante que outro, que saberes são complementares.

Do diálogo entre os saberes esperamos que o nosso, técnico e científico, seja aperfeiçoado e que ocorra o mesmo com o saber popular, pois assim sairemos todos ganhando.

Tentar subjugar, desprezar ou considerar menor o saber popular é tão errado e nada proveitoso quanto tentar renegar o saber científico em nome do saber popular. E essa é a mensagem que esperamos ter ficado desta semana de diálogos tão ricos.

A fala final do Professor Rogério Reis, coordenador de extensão e um dos coordenadores da SPC ao lado do Professor Rodrigo Pereira, exemplifica tudo isso. Segundo ele tem duas coisa que quanto mais repartimos mais temos, ou seja, o amor e o saber.

Ele tá certo. Todos que conseguiram perceber isso sem preconceitos e de espírito abertos também estão.
Mais importante que eleger um saber mais importante e melhor que o outro é aceitar que algumas respostas vão ser dadas pelo saber popular, outras pelo saber científico, outras pelo saber religioso e outras não terão respostas, ao menos não hoje.
(1) FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 34 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006.

Comentários

Anônimo disse…
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