PORQUE RIO NEGRO

Muita gente tem questionado porque eu e minha família estamos em Rio Negro. Acho que já falei bastante sobre isso, mas nunca escrevi.
Como não é segredo para ninguém, trabalhei em Rio Negro entre 2005 e 2006. Aí passei em um concurso em Campo Largo, Paraná e fui trabalha lá. Mas antes de vir para Rio Negro já tinha feito concurso na prefeitura de Curitiba e no Estado do Paraná. Em ambos havia passado e estava esperando a convocação.
Antes de vir para Rio Negro trabalhei 6 meses em Guriri, no Espírito Santo, lugar ótimo, mas onde trabalhei em um hospital, coisa que não me dava muito prazer. E ter prazer o trabalho é fundamental para fazê-lo bem.
Sai do Espírito Santo depois de 6 meses de trabalho e estava em Curitiba procurando emprego quando entrou na Internet uma vaga. Era nove e trinta da manhã quando entrou o anuncio. Sei porque estava monitorando o site. Em 10 minutos encontrei o telefone da Secretaria de Saúde e liguei. Quem atendeu o telefone foi a Elaine passou para o Seu Saul, que na época trabalhava na secretaria.
Eu disse que precisava de um emprego e só aceitaria se fosse para começo imediato. Seu Saul então disse que eu poderia fazer fazer um teste. Eu respondi que não fazia testes. Que a cidade era muito longe para eu vir fazer teste, que só aceitaria se fosse para inicio imediato e sem teste, mas que em trinta dias ele poderia estar me avaliando e eu avaliando a cidade e que se não desse certo, para qualquer dos lado a gente rescindia o contrato. E assim foi.
Cheguei em Rio Negro no dia do aniversário da cidade. No dia seguinte comecei a trabalhar. Gostei de como me deixavam a vontade para por em prática o que acreditava e ainda acredito que seja fazer saúde junto com a equipe e a população.
Mas dentro de mim eu tinha uma coisa que incomodava muito. Incomoda todo mundo que vem trabalhar no interior.
Fica a sensação que trabalhar longe dos grandes centros é para os ruins de serviço, para os fracassados que não conseguiram emprego na capital. tinha essa sensação, e olha que eu queria trabalhar no interior, passei a faculdade toda falando isso. Mas mesmo assim sentia isso.
Um belo dia sou convocado para assumir a vaga no concurso e fui.
Cheguei em Campo Largo, onde há uma população acolhedora, colegas de trabalho fantásticos, mas onde o gestor centralizava as decisões bem longe do trabalhadores.
Eu morava em Curitiba, era longe do trabalho, fazia muito frio e a violência rondava toda a família.
Um belo dia, durante o expediente normal, recebi uma ligação da Celina Flores. Segundo ela a Cidade precisava de um Enfermeiro e perguntou se eu gostaria de voltar.
Fiquei apreensivo e fui pensar. Dei a resposta em mais ou menos 30 dias.
Ponderei que lá eu era concursado, que tinha estabilidade no emprego, minha esposa era concursada na prefeitura de Curitiba. Mas mesmo assim eu e minha família resolvemos vir para Rio Negro.
Fizemos um acordo com a Secretaria de Saúde e voltamos, mas agora não existia mais aquela sensação de que não tinha escolha. Eu e minha família havíamos escolhidos estar aqui. Mas por que Rio Negro?
Porque em Rio Negro a violência é pouca, porque podemos conhecer as pessoas que são nossos vizinhos, porque quase não faz frio, porque deixavam trabalhar e por em prática SAÚDE COLETIVA DE VERDADE.
E aqui estou a quase dois anos trabalhando e cumprindo rigorosamente minha parte.
Temos uma boa situação na ESF Urbana, onde trabalho. A Equipe sente-se valorizada, responsável e hoje em condições para debater saúde em qualquer lugar do Brasil. Exemplo disso é que na III MOSTRA NACIONAL DE PRODUÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA em Brasília, apresentamos dois trabalhos. Um dos ACS foi convidado para participar da articulação nacional da categoria. Estivemos no IV ENEPS no Ceará. Aprovamos um projeto no valor de 80 mil reais para trabalhar com prevenção de doenças cronicas. Fomos a primeira cidade do estado a aprovar o NASF - Estadual e ainda recebemos outros convites para falar de nossa experiência em eventos políticos e científicos do Estado. Agora mesmo temos convite para falar no CBEN - Congresso Brasileiro de Enfermagem em Minas Gerais.
Pode para alguns parecer pouco, mas tudo foi feito em menos de dois anos. Hoje, por conta do trabalho a frente da ESF Urbana, Rio Negro se faz conhecida nos círculos da saúde coletiva do Brasil inteiro. Projeto como SAÚDE COMUNITÁRIA, ATENDIMENTO NAS PRÉ-ESCOLAS, TERAPIA OCUPACIONAL E HIPERDIA NOS BAIRROS são reconhecidos e até implantados em outras cidade, como o Saúde Comunitária em Porto Alegre e o Terapia Ocupacional em Dourados.
Hoje sinto-me satisfeito pelo que foi feito em Rio Negro e pelo que ainda pode ser. Para estar aqui recusei duas propostas para voltar para Curitiba, uma para assumir vaga em concurso na Prefeitura e outra no Estado. E por que fiz isso?
Fiz porque escolhi viver em Rio Negro e aqui criar meus filhos. Inclusive minha terceira filha, Alice, que ontem completou um ano de vida, nasceu aqui. Nasceu pelas mãos de uma ilustre morado desta terra, a Dona Cleusa, parteira maravilhosa que muito contribuiu para cidade e que muito ainda pode contribuir.
Hoje não sinto mais que estou aqui por falta de opção, mas por escolha. E agradeço muito a toda equipe que trabalhou comigo estes meses todos. Eles são os melhores.
Agora estou gozando de férias, mas logo volto ao trabalho e espero que com as bateria recarregadas para mais muitos anos na construção do lugar onde Rio Negro merece chegar.
Lembrando uma brincadeira que fiz com a Celina quando cheguei aqui. Eu disse: "agora para eu ir embora só se for expulso", mas espero que isso não aconteça, porque Rio Negro é minha cidade. Minha, da minha familia e de todos que aqui escolheram viver.

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